sexta-feira, novembro 30, 2012

Desperto

Desengasga e se despedaça.
Nesse jogo, já perdido,
Silencia e ameaça.
Se veste ao fim do dia.

No baile o sorriso é obrigatório.
Desenganos, entre um gole e outro.
Permanecemos nos cantos opostos,
Mas a menor distância é sempre uma reta.

Duramos o tempo de um silêncio confortável.
Da intimidade que ainda é saudável.
Antes que a tarde virasse noite,
Antes que o vinho avinagrasse.

terça-feira, novembro 27, 2012

Au revoir

Quando te nego, me entrego.
Depois de tudo, me confesso.
Ébrio, na cama, me deserdo.
O nosso tempo caducou.

Mas saiba que te quero, ainda longe.
Que minha cama ainda é tua,
Que teu cheiro ainda pertence ao meu corpo.
Meu sorriso mais sincero é uma resposta ao teu.

Despenco forte no chão,
Te dei dois dias de lágrimas.
O corpo todo dói,
Todavia o mar é maior.

Te deixo meu pequeno,
Te prometo um último olhar,
Uma última garrafa de vinho
E minha eterna vontade.

quarta-feira, novembro 07, 2012

Bem

Quando o calendário está atento
Programamos as duas próximas horas,
Mas o despertar sempre é atrasado.
E perdemos mais 15 minutos apenas nos olhando.

Depois do nosso mês,
Das promessas, dos prazos,
Estamos aqui, tua mão segurando a minha,
Discutindo sobre qual vinho escolher.

Onde dormir, que café, que livro...
Todas as coisas que deviam me preocupar me distraem.
Poderia estar em nossa cama todos os dias.
Escutando tuas histórias, rindo das desilusões de outrora.

"Vou voltar para você"
Voltou, ficou, aqui está...
O que fazer dos próximos minutos?
Desculpa por te ensinar o que é saudade.

segunda-feira, novembro 05, 2012

Solto

Vou te levar daqui,
Meu corpo já não é completo.
Adormeço tranquilo na tua cama
Porque é tua música que me faz dançar.

Quando faz frio minhas palavras te buscam,
Nos encaixamos fácil.
A madrugada silenciosa nos diz a verdade
E aceitamos nossa prioridade.

Teus braços que calam às dúvidas,
Tuas roupas espalhadas pela casa...
Me delicio dos teus doces
Na deriva do relógio que nos devora.

Quando penso ser sufiente,
Escrevemos outra tarde,
Não existem preferências,
Caminhamos livres nos beijos que nos trouxeram até aqui.

sábado, novembro 03, 2012

Frio

Quando tu me escreve duas ou três palavras
E sinto tua falta na menor ausência
Te entrego o que me resta,
Te dou as chaves, o melhor cobertor, um chá no final da tarde.

Na minha mente tu encharca.
Quero te fazer perceber
Que nunca é suficiente, o tanto que me importa,
Que tu entenda o quanto te pertenço.

Que os dias não são tão bonitos sem você
E que quando eu fecho os olhos, tu vem.
Que ver teu sorriso me completa,
E que toda despedida me silencia.

E que as palavras nunca ditas, aqui estão:
Te amo, sou teu e te espero.

quinta-feira, outubro 18, 2012

Entreaberto

Já não nos importa o não dito,
Nossos corpos comprovam o que nos urge.
Desabotoamos, aos poucos, as relutâncias.
Desabafamos nosso ciúme num silêncio ensurdecedor.

Quando já quase não se pode ver, tu se mostra.
Atiça, mas balbucia quando já estamos a pouca distância.
Renega, se afasta, mas sussurra as vontades que gritam.
Sei que, quando longe, nossos pensamentos se encontram.

Já sei que o tempo nos apressa, que os quilômetros limitam,
Mas sei que, lá pelo anoitecer,
Nos debruçaremos sobre nosso sofá,
Rindo do tempo em que te escrevia esse poema.

quarta-feira, outubro 17, 2012

Três

Encontrei em dois, o que procurava pelo entardecer.
Despretencioso, audaz, atirou e me derrubou de primeira.
Na segunda ceveja, conheci a terceira metade
E seu sorriso me levou de lá.

Enquanto discutíamos sobre poemas não escritos,
Mesclávamos nossos sabores, tão diferentes,
Uma tripla dose de euforia, que parece letal.
Nos despimos das regras impostas e fomos um.

É que eu me perco em ti...
Em teus cabelos, caídos sobre meu rosto,
Quando te olho em silêncio, confessando que quero ficar mais,
Que vou preparar teu café todos os dias.

E me encontro em ti...
Em teu corpo que me contém, me abrangendo,
Quando tu me ensina sossego, ao redor de tanto desapego.

Enquanto me cobriam de flores, me abstraí.
Deixei que o dia acabasse,
Tranquei as portas de outrora
E recebi duas novas chaves.

quarta-feira, agosto 08, 2012

X

Ainda que não seja tão real,
Me soa tão bonito quando digo em voz alta.
Quando compartíamos uma xícara de café,
Quando era nosso cigarro.

E a gente deslizada nos dias,
Te prendia livre,
Te perseguia nas poucas paredes,
E só a gente sabe.

Quando desperto sem ti,
Ainda no meu canto da cama,
Lembro do que talvez nunca tenho existido,
Do que não se pode "olvidar".

quarta-feira, agosto 01, 2012

Estímulo

Quando eu vejo teu cabelo bagunçado,
A cara de sono reclamando da luz que se excede,
Que, aos poucos, vai dando espaço pra esse sorriso...
É aí eu me perco, me desoriento, esqueço e já sou teu.

Ainda caio nessas tuas armadilhas,
Mesmo de tão longe tu ainda me acorrenta,
Incitando meu corpo a te querer.
E me conta dos planos de fuga, tentando me convencer de eu ser o motivo para tal.

Promete chegar antes da hora,
Fazer surpresa no nosso rotineiro cair de tarde,
Me servir do seu vinho todos os dias,
Me fazer confundir as horas e me perder nas madrugadas.

segunda-feira, julho 23, 2012

Bom

Os olhos pesados confirmam,
A boca que quase revela,
O corpo todo instigado pela ânsia,
Tudo deságua nas madrugadas silênciosas.

É que, estando ao seu lado,
Me vem a solidão do outro dia,
Que substitui a falta do último mês,
Mais ou menos metade da saudade da próxima semana.

Nos teus abraços sinto o cheiro do outro,
Que me arrepiava a pele, sussurando grosserias.
Ou do último que me fez esquecer de todos por três dias e meio.
Sempre há um quarto livre.

Por mais cinco dias me permiti não te ter mais,
Deixei as portas abertas, fechei as cortinas.
Mudei os móveis de lugar,
Mas de vez em quando ainda tropeço no teu sorriso.

domingo, julho 01, 2012

Escada

Deitado na nossa madrugada
Me entrego todo,
Quando a TV estiver muda,
Meu corpo arrepia.

Tu é dono, só você.
Quando teus lábios me perseguem, me entrego.
E, não importa quando nossa música tocar,
Eu te trago aqui.

Quando o sol aparecer, eu te prendo,
Com nossas correntes imateriais.
Te encharco de vontade,
Te levo ao nosso, só nosso, lugar.

E lá eu deixo você ser quem você quiser.

terça-feira, junho 26, 2012

Desatar

No segundo dia, às cinco,
Caímos num silêncio quase ensaiado.
Dividíamos o sofá, um café.
E, de vez em quando, balbuciávamos a mesma canção.

Gostava de como teus lábios quase tocavam os meus,
De quando sussurrava tuas premissas,
Das nossas pernas confundidas,
Do teu gosto.

A verdade é que nada poderia nos desviar,
Nossos motivos são os mesmos.
Permito-me ser teu,
Enquanto dividimos o mesmo amanhecer.

terça-feira, maio 22, 2012

É

Te peço mais um gole,
Negocio nossa noite.
Dentre tantas doses,
A verdade salta.

As palavras exagereram,
A voz não enaltece o real sentido.
Barganhas meu silêncio,
Pela dor do que se há para ouvir.

Despejo litros de sentimento,
Me arrasto até você.
Persuadido pelo ímpeto das três da madrugada,
Revelo o que não é segredo.

segunda-feira, maio 07, 2012

Faísca

Na tarde de hoje, quando nos abraçamos,
Seguindo caminhos tão distintos,
Lembrei daquela noite que, quando ainda distantes,
Eu te pertenci e só você sabe.

De como burlávamos os sentidos,
Injetando ilusões nos nossos corpos.
Enganando o óbvio, te embebedava de indiretas,
Você desviava, mas teu olhar estava preso a mim.

Quando não controlávamos as vontades,
Quando conversávamos horas nas madrugadas,
Contando dos desencontros e dos motivos pelos quais estávamos longe,
Assim a madrugada seguia, com as promessas de encontros, até hoje...

Hoje, dividindo um café e trocando tragos do teu cigarro,
Teu olhar me encabulava, depois de tanto.
Como se tivéssemos 17 minutos para (re)viver tudo:
o beijo que habita nossa vontade, o toque da tua pele que nos ascendeu.


quarta-feira, abril 18, 2012

Reticências

No começo da tarde, quando despertamos,
Ainda confundindo as lembranças da noite passada,
Tu me abraça, calado, sussurando teus segredos.
Te respondo com um beijo, antes que nos desprendêssemos.

Assim, nos vamos, leves...
Buscando mais tempo, atrasando os relógios.
Quando as palavras ditas permanecem pairando no ar,
Nos convencemos de ficarmos uma ou duas horas mais.

Quebramos as fechaduras, nos entregando.
Como uma folha em branco, nos pintamos como queremos,
Desenhando desejos e dissimulando as vontades.
Bebendo da garrafa do efêmero, ébrios de possibilidades vazias.

Fomos, naquela última noite
Fingindo despertarmos juntos,
Enganando nossos corpos, que ardiam,
Naquele enlace que custou a se quebrar.

terça-feira, março 13, 2012

Noite

Quando o frio encharcou nosso quarto de silêncio
Eu absorvia teu corpo, escutava tua vontade.
Você me mapeava, de forma descuidada.
Quando as luzes se apagaram pude te ver.

Teu corpo cansado buscava mais,
E eu te tinha ali, no chão,
Acolhido pela penumbra que nos restava.
Teus olhos fechados, dois ou três sussurros.

Nos distanciávamos com o amanhecer,
Desviando o olhar, nos vestíamos.
O corpo aos poucos recuperava os sentidos,
Não deixando espaço para nenhuma palavra.

Teu sorriso me convidava,
As horas não nos permitiam.
Te vi descendo as escadas,
Na minha cabeça tua voz ecoava.

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Esvair

Não sei se o que sinto vai se diluir com o tempo.
Se vai mudar, diminuir ou crescer.
Aparentemente permanece intacto,
Desprezando o físico, o tempo e o curso dos dias.

Involuntariamente vou repelindo possibilidades.
Os outros não têm o mesmo.
Aquela canção insiste em tocar aleatoriamente,
Nos dias certos.

O que tenho parece suficiente, ao menos por esses dias.
Saber o que se sente não implica em saber como lidar.
Todos sabemos o que vemos quando fechamos os olhos,
Ao abri-los talvez não saibamos para onde olhar.

O entardecer me carrega...
A noite me prende, espero pelo púrpura da madrugada...
Vamos caminhando juntos, em pensamento.
É quase um romance.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Querer

Quando os gigantes viram pequenos pontos,
Podemos discernir seus verdadeiros tamanhos.
E nisso vamos acumulando momentos, nos quais,
Mesmo rodeado de tantos, ansiamos pelos nossos.

Nesses poucos dias, percebo o que me leva,
O que dá vontade de ter mais, de viver mais.
Colecionar memórias, melodias e entardeceres.
Ser encantado por outros e aos poucos encantar.

Deixar palavras soltas, palavras nunca ditas,
Outras nunca ouvidas...
Se perder dentre tantas cores, tantos reflexos.
Guardar um ou outro dia trivial.

Cuidar e catalogar tudo, que é tanto...
Tentar lhes trazer para onde eu estive,
Lhes sussurar o barulho daquele dia silencioso,
Lembrar que mesmo longe, estivemos juntos por aí.