sábado, maio 17, 2008

Volta

Estavam cansados quando chegaram na sala mal iluminada.

Não trocaram palavra alguma, mas ambos demonstravam sinais de ansiedade. Ainda não tinham muita intimidade e o silêncio torturava. Foram surpreendidos pela melodia que chegava através da varanda, se distrairam e esqueceram do real propósito de estarem ali.

O telefone tocava há algum tempo, ela não se incomodava. "Que é amor tudo que eu sinto longe de você" soava mais interessante e, naquele momento, nada seria apropriado. Nenhuma outra vida seria apropriada. Aquilo era apropriado.

Trocaram poucas palavras, os olhares falavam mais. Decidiram sair e fazer o que devia ser feito. Ligaram o rádio. Por que tinha que tocar aquela música? Um chegou a sentir os olhos mais pesados, mas não demonstrou abalo algum. O outro virou o rosto para o outro lado, até chegarem.

Já era o segundo dia que tentava falar com ela. Começara a ficar nervosa e imaginar coisas estúpidas, mas no fundo sabia o que estava acontecendo. Se torturava pelo feito e pelo não feito, pensava nas possibilidades e sempre chegava a conclusão de que devia ter feito diferente. Perda de tempo.

Uma despedida termina com um abraço apertado, daqueles que duram o tempo suficiente pra não querer soltar mais.
Outra termina com silêncio e ausência.